sábado, 7 de junho de 2014

Venha Ver o Pôr do Sol


     "Venha Ver o Pôr do Sol" é um conto de Lygia Fagundes Telles, inserido no livro "Antes do Baile Verde", publicado em 1970 e que contém outros contos da escritora. 
     O conto fala sobre o último encontro entre Ricardo e sua ex-namorada Raquel, a qual ele ainda ama. Ela o deixou para ficar com um jovem rico, e ele pede para vê-la uma última vez. Raquel atende ao pedido e vai até Ricardo no local em que ele escolheu: um cemitério abandonado.
     Desde a hora que chega, Raquel se mostra preocupada com a situação. O novo namorado é muito ciumento e ela não quer desapontá-lo. Ela se zanga também com o ambiente miserável ao qual Ricardo lhe trouxe, principalmente pelo motivo banal: ele quer mostrar a ela o pôr do sol mais lindo do mundo. Ricardo alega que o lugar é deslumbrante em seus detalhes, e que por falta de condições escolheu o passeio gratuito: "Prefiro beber formicida a beber algo que você teria que pagar com o dinheiro dele", diz Ricardo.
     

     Os dois caminham pelo cemitério. Diversas vezes enquanto conversam, Ricardo apresenta um leque de rugas ao redor dos olhos, fazendo com que sua expressão fique fria, obscura. Mas logo ele retoma um pequeno sorriso, principalmente quando tenta convencer Raquel a caminhar mais um pouco, já que ela fala que quer ir embora o tempo todo, incomodada com o lugar.
     Ele avisa que estão para chegar no local onde sua família foi enterrada. Recordando a infância, Ricardo relata sobre sua prima que morreu aos quinze anos, criatura esta que ele julga ser a única que o amou. Diz também sobre os olhos da falecida: verdes, meio oblíquos e absurdamente parecidos com os de Raquel. 


     Ao chegar numa capelinha, Ricardo entra e começa a falar dos jazigos da família. Raquel acompanha a cena do alto da escada, pedindo pra irem embora dali. Quando ele se aproxima do jazigo da prima Maria Emília e relembra do dia em que a falecida garota havia tirado a fotografia que ali consta, Raquel desce e vai ver a foto. Está escuro. Ricardo acende um fósforo, entrega a Raquel e se afasta. Ela começa a ler as descrições da falecida. De repente, uma surpresa.
     "Maria Emília, nascida em vinte de maio de mil oitocentos e falecida…" Ela deixa cair o palito e fica um tempo imóvel. Inicia uma grande bronca á Ricardo pela mentira contada porém é interrompida por um baque metálico. Ao olhar ao redor, viu que estava sozinha na peça. Ricardo a olhava do topo da escada, detrás da portinhola de ferro. Tinha um sorriso meio malicioso, meio inocente.
     Raquel sobe os degraus xingando furiosamente Ricardo. Ele espera ela quase encostar no trinco da portinhola para dar uma volta na chave, arrancá-la e saltar para trás. "Uma réstia de sol vai entrar pela frincha da porta, tem uma frincha na porta." Depois, vai se afastando bem devagarinho. "Você terá o pôr do sol mais belo do mundo."


     Por um tempo, Raquel o xinga e sacode a portinhola. Sem sucesso, ela diz brandamente que a brincadeira foi ótima mas que precisa ir embora. Ricardo já não sorri. Sua expressão é séria e fria, e ao redor dos seus olhos surge o leque de rugas que obscurece sua face. "Boa noite, Raquel." Ela grita, estende os braços por entre as grades, tenta agarrá-lo. Neste momento, examina a fechadura, que está nova em folha. Em seguida, examina as grades, enferrujadas e ergue o olhar para a chave, que ele balança como um pêndulo. Encara-o, apertando contra a grade a face sem cor. Esbugalha os olhos e amolece o corpo, escorregando e resmungando baixinho: "Não, não..."  
     Ainda virado para ela, Ricardo chega á porta e dá um último adeus: "Boa noite, meu anjo." Os lábios de Raquel se pregam como se entre eles houvesse cola. Os olhos giram numa atitude inconsciente. Ela continua resmungando, enquanto Ricardo guarda a chave no bolso e retoma o caminho percorrido. O único barulho que se escuta a essa altura é o dos pedregulhos se chocando com os sapatos úmidos dele. De repente, um grito medonho: "NÃO!"
     Por um tempo Ricardo ainda ouviu os gritos que se multiplicaram, semelhantes com os de um animal sendo estraçalhado. Depois, foram ficando mais abafados, como se viessem das profundezas da terra. Assim que atingiu o portão do cemitério, ele lançou um olhar ao pôr do sol. Ficou atento. Ninguém ouviria agora qualquer chamado. Ele então acendeu um cigarro e desceu a ladeira, enquanto ao longe, crianças brincavam de roda.

     Este foi meu resumo! Na íntegra, o conto fica muito mais interessante! A riqueza dos detalhes que não pude colocar aqui faz com que nossa atenção fique presa até o final! Além deste, há também "As Cerejas", "O Jardim Selvagem" e diversos outros contos maravilhosos de Lygia.

   - Daniele Oliveira



  


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